segunda-feira, janeiro 04, 2010

lembrete

Não esqueça de sonhar, pelo menos três vezes ao dia. Não esqueça de sorrir e só chore se for preciso ou porque está feliz. Bem, não é que tenhamos de ser bipolar. Mas de vez em quando, afogar-se em prantos, lava a alma, é cura santa. Não esqueça de dizer que me ama porque mesmo lhe dizendo tanto, tenho medo de você esquecer. Não esqueça de amar o silêncio, um dia você irá entender.

domingo, janeiro 03, 2010

dando um tempo


Eu sempre quis, desde os seis meses de idade, ser velho. Tudo bem não precisa ser ranzinza como o Bentinho nem tão inteligente como o Saramago, mas de bem com a vida como o Seu Raimundo.

Seu Raimundo é um amigo que tenho que já passou dos setenta faz tempo e continua me impressionando pela perspicácia e sagacidade. Há uns quatro anos foi vítima de uma bala perdida, numa briga entre JOVENS de gang rivais, levou um tiro no braço quando ia pra sua caminhada rotineira. E ainda sim continua passando pelo mesmo local até porque ele sabe que os que atiraram nele já não estão lá, provavelmente não estão em nenhum lugar, porque não há como viver muito quando se optar por não viver. Parece meio contraditório, mas os que estão mais perto da morte são os que estão mais distante dela. Seu Raimundo resolveu casar novamente e teve uma filha que poderia ser, digamos: sua bisneta. Mas não há uma vez que o encontre e ele não faça a mesma pergunta: “-Já casou? Não cometa essa besteira”. Rimos e ele passa para a segunda pergunta de sempre: como estão as coisas no Cedro. O Cedro é um município do interior do Ceará, no chamado Sertão Central, onde ele trabalhou no final dos anos 40 e foi lá que conheceu meu bisavô e meu avô e por isso, creio eu, conversamos animadamente sobre a construção da estrada de ferro e às vezes me pergunto se ele sabe que eu não estava lá, mas isso não importa. O que importa são as estórias de fome e fé. E como são divertidas as misérias humanas quando as superamos. E como fico feliz que há uma possibilidade real de você não se encher da vida com o passar do tempo. E outras histórias surgem, exatamente como foram ou como ele gostaria que elas tivessem sido. Não me canso nunca, e desejo todos os dias envelhecer sem me tornar cínico. Em tempos de cultura da aparência e fragilidade emocional, envelhecer é o que há de mais PUNK. Seu Raimundo odeia quando falo isso, ele não suporta a expressão melhor idade, ele me diz que só há dor e pronto. Contraditoriamente moderno, meu Mestre. Lamento pelos que não entendem e imagino como deve ser difícil para os que definham. Os que imploram por mais um segundo. Enfim, talvez mesmo estando no momento exato para ser Hamlet, eu prefiro Rei Lear. Lógico que só por isso seu Raimundo é meu herói e pra completar, embora ele não faça disso um troféu, ele tem um câncer que se espalha um pouco mais todos os dias. Ele faz quimioterapia e tem que ir ao hospital quase diariamente. Sua primeira esposa também morreu assim. Nunca o vi se reclamar e ele fala disso de forma tão natural, que as vezes da um frio na espinha. Ele está morrendo um pouco mais rápido do que a maioria de nós. Mas ele não se importa. Então cada dia que o vejo e sento pra ouvir suas estórias, eu lembro que tudo é uma questão de velocidade, uns mais rápidos, outros mais lentos. Pra uns a linha final está mais próxima, para outro mais distante e para alguns especiais como o Seu Raimundo, a linha já foi ultrapassada e o que vir agora é lucro. Então que o peso dos anos me encha de esperança porque não faz sentido algum apegar-se ao que inevitavelmente se esvai. O homem novo será sempre velho o suficiente para aprender com o tempo. Esses moços pobres moços Ah! Se soubessem o que eu sei...

sábado, janeiro 02, 2010

sábado


Esquecendo um pouco os interesses mais imediatos. E pensando alto, quem sabe um pouco alto demais, talvez fosse bom que este ano fosse novo de fato. Parece que envelheci antes do tempo marcado e já sinto falta das metas por mim traçadas. Já estava tão acostumado a parecer chato. É preciso desgostar do pecado. E quando ele mora ao lado? No segundo dia do ano, já tive segundas intenções. E quase caí no conto do vigário. O vigário aqui sou eu. Ontem dormi, então não errei. Mas hoje, o dia todo acordado. Acho que não gosto dos segundos dias do ano. Nesse dia que pra piorar ainda é sábado, fica claro o que devo fazer. Então tudo acabou com o brilho dos fogos? Será que eu consigo passar do segundo dia? Melhor eu ir dormir. Pois que venha o domingo e que nos meus sonhos tudo seja tão fácil como o vento que surge do nada pra mostrar o caminho a seguir.

sexta-feira, janeiro 01, 2010

na sexta bola ou na tenda eletrônica

Se fiquei esperando meu amor passar
Já me basta que então, eu não sabia
Amar e me via perdido e vivendo em erro
Sem querer me machucar de novo
Por culpa do amor.

Quando no meio da multidão você estiver sozinho. Quando as luzes no céu não forem suficientes pra que você encontre aquilo que procura. Quando os telefones todos estiverem mudos e tudo que você mais queria era dizer oi. Talvez seja a hora de voltar pra casa, cansado e envergonhado por ter perdido a oportunidade de ser feliz. Talvez, entre barulhos de espumantes e abraços partidos, as lágrimas sejam cínicas. Então minta.

Não, existe outra saída. Crie coragem e não faça promessas. Viva e se divirta. Dance sozinho ou acompanhado, você sempre vai encontrar alguém na multidão. Alguém vai lhe apertar o braço e você estará salvo. Uma vez, com certeza pelo menos uma vez, o telefone irá completar e você poderá sorrir tranqüilo. Pule as ondas que prometem dias lindos e ouça o riso dos desconhecidos. Não se envergonhe de sentir se ridículo. É isso que todos somos: Ridículos. Mas dá pra ser feliz. Sim, tudo é questão de ponto de vista.

Pois no reveillon onde fiquei praticamente sozinho, que percebi o quanto estava acompanhado. E é isso a grande mágica, o grande milagre, algo quase divino. Você nunca está sozinho. É preciso apenas crer que alguém que lhe ama está sorrindo, ou dormindo, ou cantando, ou chorando ou simplesmente, existindo. E os erros vão sumindo, e a dor vai passando e quando menos se nota: o ano novo já lhe aponta um caminho.

Paz e Bem. Feliz 2010!

domingo, julho 26, 2009

despedida

Últimos dias desse jeito. Estou sumindo. Guardo aqui minhas últimas lágrimas. Guardo aqui meu coração. Você tem a chave, sempre teve. Mas foi bom não usar. Deixo aqui meus medos, não adianta fingir, no fundo todos sempre sabem. Todos os sorrisos foram em vão. Todos os olhares desviados. Cada segundo cabisbaixo. Nada disso se aparta desta velha alma desajustada. Então o claro tornou-se escuro e os deuses já não servem de desculpa. Não recorra aos Céus ou ao passado. Erga sua mão tremula e com o olho ainda inchado, os lábios cortados e o sangue queimando lhe a face, parta desta casa. Não guarde mágoas. Não se sinta um derrotado. Acredite em você, o espelho pode está quebrado, mas você está intacto. Machucado, mas intacto.

domingo, julho 05, 2009

country feedback

Cansou dos sonhos, entregou os pontos, não disse... Adeus. O tempo beija sua face. Seu cabelo negro agora é grisalho. O medo não pede desculpa, as verdades já não matam. E pobre de quem o conheceu. Ele já não sente dor, acostumou com a tontura que lhe atrapalha. Eu ainda tenho medo e gostaria de não estar só. Eu ainda sou pequeno, eu tento acreditar. Meu peito dói, meu coração se envenena. Ele não sabe o que você está dizendo. Então aperto seu pescoço, seus olhos estão chorando, minhas mãos agora estão quentes. Eu gostaria que o amor nos salvasse. Eu digo que desejo, mas eu sei que não acredito no que estou vendo. Você chegou com um osso na mão, com um brilho no olho, com sintomas de solidão. Eu não consigo. Eu não consigo. Eu não consigo. Tem algo errado no seu sorriso, nos seus dedos, no seu coração. O mundo é pequeno, minha loucura explode. Pobre de mim, pobre de nós. Você implora, eu rastejo. Você não se conforma e quem disse que vamos embora? O amor fere, junte suas coisas. É hora de enlouquecer. Traga consigo o que você tem de melhor. Estamos juntos porque não temos nada pra fazer.

domingo, junho 28, 2009

bilhete imaginário

Você já não cabe mais em mim e seu toque agora me incomoda. É hora de dizer adeus. Você não sabe, mas eu estou tentando quebrar seu coração. Para que você me odeie e me deixe ser feliz. Estou tentando fazer as coisas o mais difícil possível e assim quem sabe, tudo acabe em festa. Você vai sorrir e fingir, mas antes tentará entender porque estou sendo tão terrível. Eu gostaria que você soubesse: eu quero que você seja feliz. Mas, você nunca poderá saber disso, caso contrário, você achará que eu me importo. E eu não ligo. Apenas quero dormir tranqüilo e não me preocupar com seu destino. Estou procurando um jeito de fazer você perceber que a solidão é meu presente cínico, que é da natureza do escorpião esse sorriso e que estava mais do que na hora de acabar com esse martírio. E pra terminar esse bilhete de despedida, gostaria de dizer que eu não fui feliz desde o início, mas eu acreditei que era possível e por isso menti. Era isso que deveria lhe dizer, esse deveria ser o bilhete real e não apenas um texto imaginário. Mas quem disse que eu tenho coragem? Todos sabem, eu sou um covarde. Então apague tudo e substitua por eu te amo e quero ficar ao seu lado.